segunda-feira, 4 de maio de 2015

Tive a felicidade de crescer num sítio onde aos 5 anos de idade corria sozinho nas ruas como outros tantos da minha idade, fizemos coisas que não lembram a ninguém, capacetes para andar de bicicleta ?Se elas tivessem travões já era uma sorte, com meia dúzia de tábuas e 4 rolamentos surgiam os mais velozes dos carros e a sola dos "Sanjo" eram os travões possíveis, travões esses que nos valiam umas palmadas no Rabo, não por descermos a rua a alta velocidade, mas porque esses mesmos ténis tinham sido comprado uma semana antes e já só sobravam as palmilhas...
Com pregos e navalhas ferrugentas e contaminadas de tétano, jogávamos ao espeta, do Tejo fazíamos a nossa piscina e com esferovite amarrada aos braços e às pernas aprendíamos a nadar.. Uma Oliveira servia para construir uma casa na árvore tal fortaleza impenetrável no maior dos Reinos ..Éramos audazes, corajosos, os maiores do mundo, não existiam regras a não ser as regras que criadas por nós e outros que antes de nós também tinham sido putos, os putos do Bairro.. Fomos felizes, sortudos por nunca nada correr mal e por podermos usufruir de tal infância.. Era o Bairro dos índios onde todos queríamos ser cowboys e que com quatro pedras fazíamos duas balizas e intervalo só existia quando um carro passava, éramos todos defesas, meio campo e avançados, mas guarda-redes só se não valessem "bojardas".. saltávamos o muro do cemitério para fumar às escondidas.. Éramos os rebeldes do Bairro, os putos totós com a mania que eram Ruins, mas uma coisa era comum a todos, o respeito pelos mais velhos, o dar os bons-dias e ajudar quem quer que necessitasse, os "velhos" que não nos eram nada pediam para fazermos recados e nós, no meio de um sorriso fingido a esconder os mil e um nomes que nos passavam pela cabeça porque estavam a interromper a nossa brincadeira e assim o fazíamos, apenas porque fomos educados a ser assim.. Vivíamos sobre a Alçada dos mais terríveis dos Tiranos aqueles que de vez quando se lembravam de nos chegar a roupa ao pelo , todos os dias fugíamos de casa, mas assim que a noite caía regressava-mos para o colo daqueles que nos punham de castigo, mas que sempre nos acolhiam no seu colo e nos "lambiam" as feridas....Se hoje deixo a minha filha fazer um terço daquilo que fiz, não claro que não, mas apenas porque sei que não tem quem a acompanhe e sozinha nada disto faz sentido...


Sandro Saldanha
(Todos os textos registados na S.P.A.)

13ABR2015

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